‘Voltar para Deus’ é o convite do Papa Francisco nesta Quaresma

Especial para O São Paulo

Orientar o coração na direção correta e “voltar para Deus”. Esse foi o centro da pregação do Papa Francisco durante a missa da Quarta-feira de Cinzas, 17, celebrada na Basílica de São Pedro, no Vaticano. “Há um convite que nasce no coração de Deus, que com os braços abertos e os olhos cheios de nostalgia nos súplica: ‘Voltem para mim com todo o coração’”, recordou o Papa, citando o profeta Joel (2,12).

Devemos superar a indiferença e o excesso de “coisas a fazer”, disse o Papa, e realmente retornar ao caminho de Deus. Frequentemente deixamos para amanhã “dia após dia” o momento certo de se aproximar. Hoje, “Deus faz esse apelo ao nosso coração”, acrescentou o Santo Padre.

“Na vida teremos sempre coisas a fazer e desculpas para apresentar. Mas, irmãos e irmãs, hoje é o tempo de voltar para Deus.”

Papa Francisco, 17 de fevereiro de 2021
Foto: Vatican Media

Orientar o coração

O Papa disse, ainda, que podemos percorrer vários percursos nesta vida, mas a Quaresma é o melhor momento para “discernir para onde está orientado o meu coração”. Em suas palavras, “busquemos nos perguntar: aonde leva o navegador da minha vida? Em direção a Deus ou em direção a mim mesmo? Vivo para agradar ao Senhor ou para ser notado, louvado, preferido, em primeiro lugar, e assim por diante?”

Francisco também usou a expressão “coração bailarino” para se referir àqueles que fazem passos à frente e atrás, amando “um pouco o Senhor e um pouco o mundo”. É preciso lutar contra as próprias hipocrisias e “libertar o coração das duplicidades e das falsidades que o escravizam”, completou.

Uma viagem de retorno

Voltar para Deus é fazer “uma viagem de retorno possível porque a viagem de ida Ele já fez em nossa direção”. Como o doente leproso que buscou Jesus após receber a cura, também nós temos que “voltar para Jesus” e pedir a cura das nossas “doenças espirituais”, dizendo: “Jesus, estou aqui diante de ti, com o meu pecado, com as minhas misérias. Tu és o médico, Tu podes libertar-me. Cura o meu coração.”

Por isso a Quaresma é o período em que se busca o perdão “que nos recoloca em pé”, por meio da Confissão dos pecados. Na definição de Francisco, ela é “o primeiro passo da nossa viagem de retorno”. Da mesma forma, os confessores devem acolher os penitentes “como um pai”.

Voltar ao Espírito Santo

Em referência à Santíssima Trindade, o Papa também falou da necessidade de se “voltar ao Espírito Santo”, o Espírito de vida. “Não podemos viver seguindo o pó, atrás de coisas que hoje existem mas que amanhã desaparecem. Voltemos ao Espírito Santo, gerador de vida, voltemos ao fogo que nos faz ressurgir das nossas cinzas, aquele fogo que nos ensina a amar”, afirmou.

Rezando para o Espírito Santo é possível “reconciliar-se com Deus”, pois isso não depende apenas das próprias forças de cada um, mas também “do primado da ação de Deus”. E mais: “a graça nos salva. A salvação é pura graça, pura gratuidade.”

Para começar a “voltar para Deus” é preciso, antes de mais nada, “reconhecer-se necessitado” de Deus, de sua misericórdia e de sua graça, “no caminho da humildade”, pregou o Papa Francisco.

Papa deseja ‘frutuosa’ Campanha da Fraternidade Ecumênica no Brasil

Em sua tradicional mensagem à Igreja do Brasil por ocasião do lançamento da Campanha da Fraternidade, na Quarta-feira de Cinzas, 17, o Papa Francisco enviou uma mensagem desejando que o período quaresmal seja “frutuoso”. “A fecundidade do nosso testemunho dependerá também de nossa capacidade de dialogar, encontrar pontos de união e os traduzir em ações a favor da vida, de modo especial a vida dos mais vulneráveis”, escreveu.

Francisco recordou que esta é a quinta vez em que a Campanha é celebrada em caráter ecumênico, ou seja, em parceria com outras igrejas do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (Conic). O tema é “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”.

“Ao promover o diálogo como compromisso de amor, a Campanha da Fraternidade lembra que são os cristãos os primeiros a ter que dar exemplo, começando pela prática do diálogo ecumênico”, declarou o Papa.

Nesta Quaresma, de modo especial, Jesus nos convida “a orar pelos que morreram, a bendizer pelo serviço abnegado de tantos profissionais da saúde e a estimular a solidariedade entre as pessoas de boa vontade”, acrescenta ele.

Foto: CNBB

Tempo para renovar a fé, a esperança e a caridade

Recordando que a Quaresma é um “tempo de conversão”, o Papa Francisco convida os fiéis católicos a “abrir o coração para o amor de Deus”, renovando sua fé. “O jejum, a oração e a esmola” como apresentados por Jesus em sua pregação, são as condições e a expressão de nossa conversão”, escreveu na mensagem para a Quaresma de 2021, publicada na sexta-feira, 12.

Dividida em três partes, a mensagem fala da fé como acolhida da Verdade e como pode ser manifestada concretamente no mundo por meio do testemunho de vida; também trata da esperança como “água viva” necessária para o caminho; e apresenta a caridade (ou a esmola) como “mais alta expressão de nossa fé e nossa esperança” se vivida no modelo de Cristo.

Seu convite é o de viver a Quaresma “como percurso de conversão, oração e compartilhamento dos bens”, para que seja revista “nossa memória comunitária e pessoal, a fé que vem do Cristo vivo, a esperança animada do sopro do Espírito e o amor cuja fonte inesgotável é o coração misericordioso do Pai”.

Jejum, oração e caridade

O jejum é o “caminho da pobreza e da privação”. A esmola é “o olhar e os gestos de amor para o homem ferido”. E a oração é “o diálogo filial com o Pai”, afirma o Papa. Juntos, esses três pilares “nos permitem encarnar uma fé sincera, uma esperança viva e uma caridade operosa”. 

A Verdade da fé, “transmitida de geração em geração pela Igreja”, não é uma mera construção racional, mas “uma mensagem que recebemos e podemos compreender graças à inteligência do coração”. Por isso, é preciso abrir-se a Deus.

A simplicidade experimentada no jejum quaresmal ajuda a “redescobrir o dom de Deus e a compreender a nossa realidade de criaturas que encontram n’Ele sua realização”. Na oração silenciosa, acrescenta Francisco, “a esperança é doada como inspiração e luz interior, que ilumina desafios e escolhas de nossa missão”. A Quaresma nos permite “receber a esperança de Cristo” por meio da oração pessoal.

Por fim, a caridade “é dom que dá sentido à vida”, comenta o Pontífice. “O pouco, se compartilhado com amor, não termina jamais, mas se transforma em reserva de vida e de felicidade”, diz ele. “Assim é a esmola, pequena ou grande que seja, se oferecida com alegria e simplicidade.”

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