Em um momento em que crescem questionamentos infundados sobre a eficiência das vacinas, o Papa Francisco enfatizou a necessidade da vacinação para acabar com a pandemia da COVID-19. “Eticamente, todos devem tomar a vacina”, disse ele, em entrevista veiculada no domingo, 10, na rede de TV italiana Mediaset TG5.
“É uma opção ética, porque está em jogo a tua saúde, mas também a dos outros. Se os médicos nos apresentam a vacina como algo bom, sem grandes efeitos negativos, por que não tomar?”
O Vaticano já iniciou a vacinação de seus profissionais de saúde e, a partir da quarta-feira, 13, começa a vacinar todos os seus funcionários e familiares. “Já reservei a minha”, disse o Papa.

‘Negacionismo suicida’
No Brasil, assim como nos Estados Unidos e na Europa, vem aumentando o número de pessoas que acredita mais em informações falsas difundidas nas redes sociais – como, por exemplo, a ideia de que elas causam autismo ou alterações genéticas – do que nos dados científicos.
A comunidade científica vem analisando as dezenas de vacinas para COVID-19 e somente aquelas consideradas seguras e eficazes, após três fases de testes, devem ser aplicadas, conforme o protocolo. No Brasil, atualmente o governo federal vem analisando a CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan e a Sinovac, e a AstraZeneca/Oxford, produzida em parceria com a Fiocruz.
Papa Francisco recordou sua infância, quando as pessoas faziam fila e não viam a hora de se vacinar contra a poliomielite (paralisia infantil). Rejeitar as vacinas “é um negacionismo suicida que eu não sei explicar”, afirmou.
É hora do ‘nós’ em vez do ‘eu’
Em recado a todas as pessoas que ocupam posições de liderança, Francisco disse que é preciso “enfatizar a unidade”, e esquecer o “eu” por um tempo. Não é hora de pensar em vantagens pessoais, disse ele, mas de promover o “nós”. “Não é o momento da colheita. É hora de semear, todos pensando no bem comum”, acrescentou o Pontífice.
Papa Francisco comentou, ainda, que para sair dessa crise “precisamos ser realistas” e apresentar “soluções concretas”. Como exemplo, ele declarou que “tirando 1 mês de despesas com guerra se acabaria com a fome na humanidade por 1 ano.” E questionou: “Nada de fantasias. Como podemos mudar a situação?”
Perguntado sobre o que mudou na sua vida durante a pandemia, Papa Francisco disse que no começo se sentiu “enjaulado”, mas logo se acostumou à rotina com mais reuniões e telefonemas.
Ele observou também que, embora esteja prevista uma viagem ao Iraque, em março deste ano, ainda não se sabe se será possível porque os eventos com o Papa tendem a causar grande aglomeração.
Aborto é uma questão humana, não religiosa
Sem comentar explicitamente a legalização do aborto na Argentina – contra a qual articulou antes da votação no Senado, em 30 de dezembro – o Papa Francisco voltou a falar do tema na entrevista do domingo, 10.
“O aborto não é questão religiosa, mas primeiro de ética humana. A religião vem depois”, disse. “Cada religião pode analisar, mas mesmo o ateu deve refletir, em sua consciência.”
Ele acrescentou que “a ciência nos diz que na terceira semana de gestação, quase quarta, já existem todos os órgãos. É uma vida humana. É justo eliminar uma vida, chamar um algoz para resolver um problema?”
