A pandemia da COVID-19 escancara nossas desigualdades e somente com maior união e colaboração entre as nações será possível sair melhores desta crise histórica. Esse foi o centro da mensagem gravada que o Papa Francisco enviou à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), exibida na sexta-feira, 25 de setembro.
Trata-se de “um tempo de escolhas”, pois precisamos “escolher o que conta e o que passa, separar o que é necessário do que não é”. Papa Francisco fez uma defesa do multilateralismo: pediu maior colaboração entre os países, dando especial atenção aos mais pobres.

“Estamos de frente a uma escolha entre um de dois caminhos possíveis: um conduz ao reforço do multilateralismo, expressão de uma renovada corresponsabilidade mundial, de uma solidariedade fundada sobre a justiça e a realização da paz, e a unidade da família humana, projeto de Deus para o mundo”, disse.
A segunda opção, e não desejável, enfatiza a suposta “autossuficiência, o nacionalismo, o protecionismo, o individualismo e o isolamento, excluindo os mais pobres, os mais vulneráveis, os habitantes das periferias existenciais. E certamente causará danos na comunidade inteira”, insistiu o Papa.
Uma crise que pede solidariedade
Essa colaboração determinada e consciente, na doutrina social da Igreja tem um nome: solidariedade. “A crise atual nos demonstrou que a solidariedade não pode ser uma palavra ou uma promessa vã”, afirmou.
Como tem feito desde a sua encíclica Laudato Si’ (2015), ele acrescentou que as raízes dos problemas sociais e ambientais são as mesmas. Para solucionar as desigualdades, é preciso cuidar da Criação. Para proteger o meio ambiente, é preciso garantir os direitos básicos e priorizar a vida humana.
Como exemplo, ele falou da situação da Amazônia.
“Penso na perigosa situação da Amazônia e às suas populações indígenas. Isso nos recorda que a crise ambiental é indissoluvelmente ligada a uma crise social, e que o cuidado do ambiente exige uma abordagem integral para combater a pobreza e a exclusão”, comentou.
Combater a ‘cultura do descarte’
Até mesmo na questão sanitária, como no desenvolvimento da vacina, Francisco pediu que “se for preciso privilegiar alguém, que seja o mais pobre, os mais vulnerável, que geralmente é discriminado porque não tem poder nem recursos econômicos”.
Nesse mesmo sentido, ele repetiu um apelo que vem fazendo nos últimos meses. Francisco pede aos países ricos que perdoem ou até mesmo anulem a dívida dos países mais pobres, para que possam se recuperar da pandemia.
O panorama de fundo é a “cultura do descarte”, a noção generalizada de que há seres humanos mais descartáveis do que outros. Na sua origem, disse o Papa, “há uma grande falta de respeito pela dignidade humana, uma promoção ideológica com visões reducionistas da pessoa, uma negação da universalidade dos seus direitos fundamentais, e um desejo de poder e controle absoluto que domina a sociedade moderna de hoje”, definiu.

Direitos humanos violados
O Papa renovou seu apelo por uma suspensão de conflitos, especialmente com maior controle do comércio de armas e do desarmamento total das armas de destruição de massa e armas nucleares.
Entre outras questões urgentes, ele mencionou o direito dos migrantes de receberem atenção, e não serão abandonados ou abusados. Também falou da educação das crianças, da infância, e destacou seu direito à vida – falando do aborto como uma violação desse direito.
“Infelizmente, os países e as instituições internacionais estão também promovendo o aborto como um dos chamados ‘serviços essenciais’ na resposta humanitária. É triste ver como se tornou simples e conveniente, para alguns, negar a existência de vida como solução a problemas que podem e devem ser resolvidos, seja para a mãe, seja para a criança não nascida”, exortou o Papa, em discurso à ONU.
Papa Francisco também falou da necessidade de promoção das mulheres “em todos os níveis da sociedade”. Elas são principais vítimas “de escravidão, de tráfico, de violência, da exploração e de tratamentos humilhantes”.
Outro direito fundamental que continua sendo violado, disse o Pontífice, é a liberdade religiosa, muitas vezes manipulada pelas “ideologias reducionistas”. “A lista de violações [dos direitos humanos] é muito longa”, afirmou.
Ele falou de um “genocídio” de pessas que têm religião. “Também nós cristãos somos vítimas: quantos sofrem, em todo o mundo, às vezes obrigados a fugir das próprias terras ancestrais, isolados de sua rica história e rica cultura”, disse.
